MANÍACO
MANÍACO
Maníaco.
Tinha um arsenal de fotografia. An-
dava um pouco e - tlac. - Revelava
- fixava - copiava. Se deslumbrava.
Depois passou para o filme. Descobria
ângulos. Surpreendia o efêmero. Em-
punhava a máquina em todos os cantos.
- Para quê?
- Para rodar.
Colou um poema na parede do labora-
tório:
a nuvem
u
o
s
s
a
Por aqui p
Na penumbra
salvou-se o tédio.
Ninguém entendia. Mas o poema lhe concedia trocas. Era
a sua Sonata.
Certa vez rodou o filme n° 4. Rosto alegre. Olhos brilhan-
tes. Background de pessegueiros pesados. Fevereiro. Um
fevereiro farto.
O número 20 cresceu de dentro para fora. Do obscuro para
o dia.
Descobriu a luz transpondo o filtro de estalactite.
Suspirou fundo.
Na paisagem da vila perdida, que pensaria o mascate que
passou montado num burro?
Rodara muitos filmes.
- Para quê?
- Para rodar.
O documentário dos desconhecidos desman-
telando um edifício. Tempo de raiva.
Crianças brincando de roda. Tempo do
tempo ingênuo.
Maníaco. Catalogava seus flashes com
ternura. O momento da flor. A escada da
solidão. Três arados contra o vento.
Maníaco trabalhava de noite.
Uma noite
foi invadida por um sujeito.
- Vou curá-lo.
- Como?
- Destruindo seus filmes.
Então os olhos do homem se tornaram
duros como pedra. Violentos como
a cena da catarata. Decididos como
um tiro.
- Por quê?
- Para r-o-d-a-r.
É que o maníaco não sabia se recom-
por apenas com idéias. Precisava de
imagens. Tudo isso que era ele.
Ridículo. Generoso. Sensível. Cir-
cunspecto. Prescindiria de tudo, o
maníaco. Menos de sua biografia
inalterável.
O que sobrava de si mesmo.
Etiquetas: anticonto
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