PARE OLHE ESCUTE

ESCOSTEGUY Vida e obra

sábado, 6 de junio de 2009

OBRA POÉTICA – ESTÉTICA E CONHECIMENTO

Pedro Geraldo Escosteguy, numa época em que não só o direito à poesia como todos os outros direitos humanos eram fraudados com as armas da intimidação, da delação e da censura, não renuncia a seu compromisso emancipatório. Sua adesão ao slogan O povo tem direito à poesia[1] emerge como componente vital da personalidade do autor, que busca mobilizar a consciência crítica da população. Sua preocupação em experimentar novas formas para veicular o poema, em alargar o número de leitores de poesia e o desejo de “mexer com a passividade intelectual existente”[2], movem não só o Grupo Quixote como toda sua obra poética. Para ele a arte é um prolongamento do humano, valorizando a imagem ante a palavra adequada que amplia a qualidade e a rapidez da comunicação visual como exercício da sua larga preocupação social. Mergulhando na própria interioridade, busca se individualizar e recuperar a pureza de linguagem pela experimentação com a matéria, na forma fragmentada do poema de vanguarda, denunciando os malefícios causados pela sociedade e a própria miséria humana resultante de um ser e seu universo também fragmentados. Partindo de situações perfeitamente delineáveis e quotidianas, Pedro Geraldo Escosteguy cria uma poesia que penetra na própria natureza do homem e no seu confronto com o universo que vivencia e sobre o qual reflete. Induz à apreciação do equilíbrio dos seres e da disposição das coisas e dos homens na construção de um conteúdo latente na técnica em confronto com o conteúdo objetivo que provoca, sugerindo uma digressão a respeito da linguagem. Pedro Geraldo Escosteguy elabora sua poesia em um fase de revolução poética intensa, instalada com as convulsões da guerra e do pós-guerra de 1945, e na qual as conquistas tecnológicas do mundo moderno incidiam nas artes e nas letras. Sempre atento às novidades, aos movimentos que exaltavam uma nova mentalidade e que buscassem a autenticidade de expressão dentro do caráter objetivo da realização poética, toma como elementos para sua obra a captação do real, a exteriorização dinâmica e impetuosa de afirmações relativas a todos os homens e ao próprio ato poético, que passa a estar pronto para todos os experimentos. Os sentimentos e imagens vagos e indefiníveis, num primeiro momento, exigem a integração do leitor num nível de emoções derivadas dos sentidos, percebidos como formas, sons, cores, tatos, sabores e sensações fragmentados, decompostos nos poemas, de forma a poder criar novas imagens e idéias, função estética intrínseca ao espírito humano e essencial à sua natureza. A poesia de Pedro Geraldo Escosteguy busca a síntese do subjetivismo que ultrapassa a lógica formal, impulsionando a pesquisa e o aprimoramento dos métodos, considerando o homem como sujeito do seu próprio projeto e substituindo a contemplação pela participação na medida em que o ser solitário se engrandece no ser solidário.
[1] Slogan criado por Fernando Castro para a Mostra Popular de Poesia Quixote, realizado na Praça da Alfândega, em abril de 1960, com o apoio da prefeitura Municipal de Porto Alegre e da Divisão de Cultura do Governo do Estado. [2] OSTERMANN, Rui Carlos. Mérito: quebra da calma intelectual. Correio do Povo. Porto Alegre, 28 abr. 1960.

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