PARE OLHE ESCUTE

ESCOSTEGUY Vida e obra

miércoles, 29 de julio de 2009

CONVITE À ESTÉTICA

A relação estética será examinada como relação entre um sujeito individual e um objeto concreto singular, referindo-se à experiência vivida por um sujeito em determinado momento e ao objeto que é seu correlato necessário. SUJEITO E OBJETO NA SITUAÇÃO ESTÉTICA
Os dois termos dessa relação concreta, singular, constituem uma totalidade ou estrutura peculiar que chamaremos situação estética. Nela, e durante ela, um sujeito e um objeto determinados se comportam esteticamente.
Para que um objeto exista esteticamente, é preciso que se relacione com um objeto concreto, singular, que o usa, consome ou contempla de acordo com sua natureza própria: estética. Por conseguinte, enquanto não é consumido ou contemplado, só é estético potencialmente. O sujeito, por sua vez, só se comporta esteticamente quando entra na relação adequada com seu objeto. O sujeito e objeto por si sós, à margem de sua relação mútua, não têm, real e efetivamente, uma existência estética. No sujeito não ocorre algo assim como uma atitude estética, anterior a essa relação, como insistem alguns tratadistas contemporâneos. O que existe, na verdade, é a experiência que o objeto provoca, ou o estado ou atitude engendrada na (e não antes da) relação estética, concreta, singular, com esse objeto.
A situação estética se acha condicionada por diversos fatores. Esses fatores, ou condições necessárias, são de ordem diversa, mas basta a ausência de qualquer deles para que o encontro sujeito-objeto não se produza. Os fatores objetivos ou condições são aqueles que se dão no objeto, embora não seja percebido ou contemplado. Entre eles figuram certos fatores físicos sem cuja presença o objeto estético não poderia mostrar-se aos sentidos do sujeito. A relação estética com o objeto- obra plástica, paisagem natural ou obra musical- acha-se condicionada necessariamente por fatores físicos; ou seja, sem certas condições físicas, de luz ou som, essas relação se tornará impossível para o sujeito.
Entre os fatores objetivos, é preciso destacar também certas características ou propriedades específicas que não ocorrem em todo tipo de objetos e que possibilitam ao sujeito entrar neles na relação peculiar que chamamos estética. Essas características se encontram como invariantes, em todo objeto estético. Pertencem a ele independente dos atos subjetivos, individuais, de sua percepção ou contemplação. Ocorrem no objeto e sem essas características próprias do objeto, assim como sem os fatores objetivos, o sujeito não pode entrar em determinada situação estética. É preciso ressaltar, porém, que essas características do objeto não devem ser consideradas em si mesmas, à margem do contexto histórico, social e cultural em que determinado sistema de convenções ou código permite considerar esse objeto como estético e, portanto, manter com ele a relação estética reconhecida como tal.
Os fatores subjetivos, igualmente necessários para que o sujeito (um indivíduo concreto em determinada circunstância) possa entrar e deparar com uma situação estética são de gênero diferente. Em primeiro lugar, os de caráter psíquico. O desinteresse total ou a indiferença plena ante a existência do objeto fecha as vias de acesso a sua contemplação estética. O que quer dizer também que não basta que o sujeito se interesse ou esteja atento ao objeto; deve tratar-se de um interesse ou atenção motivados pelo objeto estético enquanto tal. Se esse interesse ou atenção são provocados por uma situação pessoal, ainda mais no caso de tratar-se de uma situação pessoal vivida intensamente, sob os efeitos de uma pressão emocional, esta situação lhe barrará o passo à contemplação serena e prazerosa do objeto, impedindo-o, portanto, de entrar numa situação propriamente estética.
Certo equilíbrio emocional ou liberação das necessidades e preocupações imediatas tornam-se necessários para que o sujeito não seja prisioneiro delas ou se veja absorvido pelo objeto destas, o que, num ou noutro caso, torna impossível a contemplação indispensável na relação estética. Junto aos de ordem psíquica, há os de ordem histórica, social ou cultural que transcendem a individualidade do sujeito. Nem sempre o sujeito pode entrar em uma situação estética e nem sempre se encontra nela ou tem acesso a ela da mesma maneira.
Não bastava, porém, que a relação estética se constituísse como uma forma própria e autônoma do comportamento humano- o que, como sabemos, só acontece no século XVIII – para que muitos objetos que hoje consideramos estéticos ganhassem o direito de entrar nessa relação, pois era preciso que se chegasse a um universalismo estético que, tanto para o passado como para o presente, reconhecesse a pluralidade de sistemas estéticos ou códigos artísticos. Só a partir de uma ideologia estética, que assume o estético e o artístico como um valor universal, um objeto passa a ser um objeto estético chamado obra de arte.

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miércoles, 22 de julio de 2009

OPINIÃO 65

Resultante da relação entre os artistas cariocas e a Nova Figuração da Escola de Paris, Ceres Franco e Jean Boghici idealizam a exposição Opinião 65, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. São ao todo 30 artistas que trazem nas suas telas e trabalhos os traços da Nova Figuração e instigam uma arte voltada para a realidade. Rubens Gerchman, em matéria publicada no jornal O Globo, em 1985, afirma:
Opinião 65 foi importantíssimo sob o aspecto político. Foi um primeiro momento de demonstrar uma resistência ao estado opressor que estávamos vivendo. Foi um gesto de alerta e de consciência que uniu os artistas plásticos. Por isso, Opinião 65 foi extremamente oportuna e serviu de ponte para a cultura de resistência que se instalou no Parque Lage anos mais tarde. Opinião 65 foi como uma pequena fresta aberta pelos artistas que queriam opinar sobre a arte e a política. [1] (Cf. ALPGE 03c0376-1985) Opinião 65 foi a primeira resposta consistente, no plano da arte figurativa, seja ao Informalismo contra o qual toda vanguarda se insurge, seja ao Concretismo/Neoconcretismo em relação ao qual busca-se uma composição (popcreto: Cordeiro) ou um desdobramento (Parangolé: Oiticica). Opinião 65 repercute profundamente não apenas na obra de cada um de seus participantes, como no próprio curso da arte brasileira. O Parangolé, assim como os Penetráveis, que trazem uma preocupação com o nacional, eram uma manifestação que tinha por base “capas”, fazendo com que o corpo do espectador-participante passasse a inserir-se na estrutura. A “vivência” da obra, que se dava ao nível subjetivo, agora incorpora o sujeito, uma vez que a relação entre obra e espectador se torna orgânica.
No catálogo do ciclo de Exposições sobre Arte no Rio de Janeiro: Opinião 65, de 1985[2], Jean Boghici acredita que “nem sempre é o artista o melhor intérprete de sua obra”, podendo o seu depoimento velar o que a obra quer desvelar, ou inversamente, “a obra re-vela, aquilo que o artista , em sua fala, quer des-velar”, sendo a obra, em alguns casos, obscura ao seu próprio criador. Opinião 65, em face a um ambiente extremamente acanhado com relação ao alcance do público, atingiu amplamente seu objetivo. Foi um manifesto de revolta de toda uma parte da produção artística, não apenas em relação à questão política mais imediata, mas principalmente pela penetração dessas linguagens no ambiente institucional do museu. Pedro Geraldo Escosteguy participa da Opinião 65, com as obras Estória (Cf. ALPGE 11f0042-1965) e O Circo (Cf. ALPGE 11f0034-1965), declarando para Claudir Chaves, no Diário Carioca, em 05 de setembro de 1965:
Minha participação em “Opinião 65” está aquém dos méritos que essa mostra internacional concentra, ao indicar, seguramente, novos caminhos da expressão brasileira. Minhas construções de madeira se assentam numa semântica social onde revelo a perplexidade geral ante a corrida belicista. Em sua execução, mobilizo uma semiotécnica acessível aos meus próprios conhecimentos e possibilidades, auxiliada com o uso da palavra ou da frase, em busca de associações rápidas. Em suma, ao lado de tantas manifestações válidas da nova figuração e da pop-art, estou satisfeito com os primeiros resultados das minhas construções, mais próximas, provavelmente, do novo realismo. [3] Ceres Franco, na apresentação de Opinião 65, afirma ser esta uma exposição de ruptura em que o artista exerce um novo papel na sociedade, rejeitando uma “tradição plástica caduca” e voltando-se para a natureza urbana imediata e seu culto diário de mitos, o que resulta numa pintura denunciadora, crítica, social, moral, independente, polêmica e inventiva. Ao se referir ao trabalho de Pedro Geraldo Escosteguy, O circo, Ceres Franco afirma: Pedro Escosteguy constrói escrupulosamente o circo, cujo maior espetáculo ninguém terá tempo de ver – a explosão da bomba atômica. Seu relevo pintado de preto com dizeres irônicos tem o peso de uma profecia trágica e ameaçadora.[4] [1] “Opinião 65”: um bom momento para rever a polêmica. O Globo. Rio de Janeiro, 26 ago. 1985. p.9. [2] MORAIS, Frederico et al. Opinião 65: Ciclo de Exposições sobre arte no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Galeria de arte BANERJ, 1985. p. 15. [3] MORAIS, Frederico et al. Opinião 65: Ciclo de Exposições sobre arte no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Galeria de arte BANERJ, 1985. p. 28. [4] Idem. p. 22-23.